29 de mai. de 2011

FAMILIA DESESTRUTURADA


Famílias sem estrutura são iguais a criança em situação vulnerável


Conselho Tutelar atende 547 casos/mês em Sorocaba.

Em 80% deles, são de mães sem marido, mas com mais de 3 filhos de pais diferentes



Aos 29 anos, a jovem advogada Sylvia Campanati tinha tudo para fazer carreira tranquila na área jurídica, mas encarou o desafio de fazer parte do Conselho Tutelar de Sorocaba.
Há um ano e meio ela presidente a entidade onde entrou após concurso público de seleção do interessados e de ter sido eleita, entre os que passaram no concurso, por integrantes do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente.
Na noite de quarta-feira passada ela aceitou o desafio de conversar com o membros do Conselho de Leitores do BOM DIA na sabatina mensal, publicada sempre no último domingo do mês.
Novo mundo /Sylvia começa a conversa fazendo um esclarecimento: o Conselho Tutelar não é a versão atual do temível Comissário de Menores que existiu até os anos 70 e tinha poder de reprimir e prender os menores.
“O Conselho Tutelar é a maneira que a sociedade achou para que pudesse zelar pelo cumprimento dos direitos e adolescentes que estão definidos por lei”.
Na prática isso quer dizer que o Conselho Tutelar “atua na orientação, apoio, requisição e advertência das famílias e seus filhos menores de idade na proteção e não repressão”, explica ela. 
Como é relativamente novo esse conceito, “muitas pessoas ainda tem uma visão antiga sobre os problemas envolvendo crianças e adolescentes, ou seja, entendem que as famílias devem tratar os filhos como objeto e extensão dela e não como um ser com direitos a serem respeitados e deveres a serem cumpridos de acordo com uma legislação” explica Sylvia.

Falta educação /De março de 2010 a março desse ano o Conselho Tutelar de Sorocaba realizou 7.107 atendimentos, dando uma média de 547 casos ao mês no período. 
O mês mais problemático foi em fevereiro desse ano, quando foram 697 ocorrências, seguido de agosto do ano passado com 681 atendimentos. 
O mês mais calmo foi o de dezembro com 347 casos.
“De todos os casos, no geral, em 80% deles, posso assegurar, são casos de famílias sem estrutura convencional, ou seja, são famílias formadas por mães sem marido e com uma média de 3 a 7 filhos e na grande maioria das vezes com pais diferentes de cada um dos seus filhos”, explica Sylvia. 
“São casos onde os filhos não tem quem cuide deles, não tem acompanhamento diário, e que acabam ficando sem cuidado e que geram apenas um tipo de reclamação das mães: eu não posso como meu filho, ele não me obedece, não tem limite”, afirma Sylvia para em seguida, ela própria se perguntar em tom de reflexão: “mas quem tem de dar os limites aos filhos sãos as mães, os pais, mas são famílias diferentes, a mãe tem de sair para trabalhar, os pais só apareceram na hora de fazer os filhos e sumiram, sem assumir responsabilidade alguma, e não tem quem cuide dessas crianças”.
Questionada sobre o papel do Poder Público, especialmente da Prefeitura de Sorocaba, nesses casos, Sylvia é clara em dizer que “existem ótimos programas desenvolvidos por parte da Prefeitura, para todos os tipos de problemas, mas infelizmente em número insuficiente para atender todos os casos”, diz ela para logo após, ela mesma complementar: “mas o problema não é ter programas, pois eles teriam de atender as exceções da sociedade, o problema é o tipo de família que está sendo formada, o que falta de verdade é educação para que uma mãe tivesse condições de exercer o seu livre arbítrio e dizer se quer ter a quantidade de filhos que está tendo e com pais tão omissos que não sentem-se responsáveis pelos filhos que ajudam a gerar. 
É esse problema que precisa ser atacado”, diz ela.
Um dado que ajuda nesse raciocínio de Sylvia é o fato de “que os problemas estão se repetindo de geração para geração, ou seja, muitas mães de hoje repetem o modelo das mães delas o que me faz ter certeza de quem o problema não é de informação (todas já ouviram falar sobre métodos contraceptivos), mas de formação. 
Nem filho nasce problemático, mas se torna, é cultura a questão, e nesse ponto o Poder Público poderia e deveria ser mais atuante e Poder Público nesse caso não é só a Prefeitura que está mais perto de nós, mas o governo do Estado e a Presidência”, esclarece.
Sylvia lembra a maioria dos casos atendidos pelo Conselho Tutelar são de famílias que não sabem o que fazer com os filhos rebeldes e que não obedecem aos pais, mas faz um alerta “é importante ressaltar que não existe um estereótipo de que os problemas estão com quem tem menos dinheiro e faço questão de lembrar que temos o conhecimento de famílias com 10 filhos, todos educados e amados por seus pais que administram a família com poucos recursos e outras famílias, com poucos filhos, com muito dinheiro, mas onde os pais não conseguiram o respeito para ter autoridade sobre os filhos e são fonte de problema.
Casos chocantes / Sylvia relata cinco casos extremos que foram alvo do Conselho Tutelar de Sorocaba, portanto, que aconteceram aqui, mas ao leitor possa parecer algo distante. 
Não é.
1º) Um filho adolescente matou a mãe. 
Algo inimaginável até se descobrir a formação atormentada que ele teve. 
Era um menino que quando começou a ter ereção, por volta dos 10 anos, a mãe resolveu dormir com ele. 
Isso mesmo, iam dormir na mesma cama e a mãe fazia do seu filho o seu homem. 
Quando esse menino cresceu e se deu conta do que a mãe fazia, enojado, ele a matou.
2º) Um pai, com a mãe fazendo de conta que não via e não sabia, passou a aliciar a filha pequena. Hoje, a menina é adolescente e é apaixonada pelo pai. 
Não consegue ter sua própria sexualidade e deseja o pai como homem.
3º) Num prédio de alto padrão financeiro de Sorocaba, por determinação da Justiça, Conselho Tutelar foi verificar o que acontecia ali e se deparou com uma mãe chafurdando em cocaína na frente dos filhos pequenos, claramente sem cuidado, com fome e fraldas suja.
4º) Família chama a imprensa para denunciar que o filho foi abusado sexualmente dentro da escola, mas o que se descobre é que foi o pai quem abusou do menino. 
Mas para salvar o casamento e evitar de passar vergonha a mãe preferiu mentir e dizer que a escola não cuidou do filho e permitiu que ele tivesse sido abusado, quando tudo aconteceu em casa mesmo.
5º) Caso muito recorrente são de mães que telefonam ao Conselho Tutelar desesperadas, chorando, que não aguentam os filhos. 
Ai o que se percebe é que a mãe não tem com quem falar sobre a sua relação com o filho e a ligação acaba sendo um desabafo. 
No fundo, a mães queriam uma Super Babá (a Supernanny do seriado da TV) para ajuda-las. 
Pois elas chegam do trabalho, cansadas, e no primeiro choro da criança elas dizem sim. 
É sim para tudo, quando se sabe que a criança precisa de limites, ouvir não, para que possa ser bem formada.
Não há raio-x mais claro que esse, dado por Sylvia, sobre o que pode ser a base de problemas de Sorocaba. 
Ou tem?
O que é o Conselho Tutelar?É um órgão permanente e autônomo encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos por lei
17 anos, 11 meses e 29 dias é o limite estipulado por lei para se chamar uma pessoa de adolescente. A criança é quem tem até 11 anos, 11 meses e 29 dias. Com 18 anos já se é adulto
O que faz o Conselho Tutelar?Recebe e identifica problemas onde haja o envolvimento de criança e adolescente e notifica o Ministério Público, a Polícia, a Justiça (dependendo da situação) para que sejam tomadas providências que solucionem o problema identificado
NOME_ Sylvia Pauletti Roquette Campanati, 29 anos
CARGO_ Presidente do Conselho Tutelar de Sorocaba
FORMAÇÃO_ Começou sua carreira profissional como estagiária concursada do Ministério Público Estadual entre os anos de 2002 a 2004, formou-se advogada e fez Especializações em Direito Civil, Direito Urbanístico e Ambiental. Foi presidente do Educandário Santo Agostinho

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FONTE



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