“Assisti na TV e vi que era um crime”,
diz menina abusada pelo pai
jovem de 16 anos, que sofreu abusos desde a infância, fugiu de casa
Na Semana de Combate a Pedofilia, em que o país inteiro está mobilizado contra o crime, o Jornal de Santa Catarina entrevista uma menina de 16 anos, abusada sexualmente pelo pai desde a infância.
As mãos trêmulas denunciam a dor que o olhar e a voz firme tentam esconder.
Quase dois anos após ter fugido de casa para viver com uma tia, a adolescente conta como se deu conta do que estava acontecendo com ela e de como tenta construir um novo caminho.
Quase dois anos após ter fugido de casa para viver com uma tia, a adolescente conta como se deu conta do que estava acontecendo com ela e de como tenta construir um novo caminho.
Mas a sensação de impunidade, por ver o pai livre, e a falta de apoio da mãe, ainda assombram os pensamentos dela.
Grupo RBS – Que idade você tinha quando tudo aconteceu?
Grupo RBS – Que idade você tinha quando tudo aconteceu?
Vítima - Quando eu tinha cinco anos, ele (o pai) me molestou, vinha passando a mão.
Foi quando eu tinha oitos anos que aconteceu (o abuso).
Depois continuou me molestando, queria me ver nua.
Grupo RBS – Qual foi a sua reação? Você sabia o que estava acontecendo?
Grupo RBS – Qual foi a sua reação? Você sabia o que estava acontecendo?
Vítima - Não. Ele me ameaçava muito, dizia que se eu falasse para alguém ele mataria a mim e a minha mãe. Não lembro com que idade, comecei a assistir na TV reportagens sobre abuso sexual e vi que era um crime.
Eu já não gostava do que ele fazia, aí comecei a ficar com nojo.
Mas tinha medo de contar e alguém ir tirar satisfação com ele.
Grupo RBS – Sua mãe sabia?
Grupo RBS – Sua mãe sabia?
Vítima - Para uma mãe, não ver o que está acontecendo é muito difícil.
Desconfio que ela sabia e não queria contar para ninguém.
Para mim, hoje, minha mãe é minha tia.
Grupo RBS – Em que momento você resolveu trazer tudo isso à tona?
Grupo RBS – Em que momento você resolveu trazer tudo isso à tona?
Vítima - Minha mãe descobriu que tinha sido traída pelo meu pai e falou que iria se separar dele.
Pensei que se eu contasse, ela iria denunciá-lo.
Quando contei, ela me disse que já imaginava.
Depois, falou que não acreditava em mim.
Grupo RBS – Quando você decidiu que iria sair de casa?
Grupo RBS – Quando você decidiu que iria sair de casa?
Vítima - Minha mãe falou que iríamos nos mudar para outra cidade, mas que ele (o pai) não iria junto, e que quando chegássemos lá ela iria denunciá-lo e ele seria preso.
Quando chegamos, a ouvi falando no telefone com ele, dizendo que ele também iria para lá.
Grupo RBS – Como aconteceu a fuga?
Grupo RBS – Como aconteceu a fuga?
Vítima - Eu liguei para a minha tia, pedindo ajuda.
Aí fugi.
Caminhei por duas horas até o terminal de ônibus, no Centro, e fiquei à espera da minha tia.
Minha mãe estava me procurando, mas passou do meu lado e não me viu.
Eu tinha o cabelo comprido, e escondi por dentro da blusa.
Nunca me esqueço.
Grupo RBS – E então você foi viver com a sua tia?
Grupo RBS – E então você foi viver com a sua tia?
Vítima - Sim, foi quando começou o meu processo.
Fiz os exames, fui atrás de tudo.
Grupo RBS – E o seu pai, está preso?
Grupo RBS – E o seu pai, está preso?
Vítima - Não, ele está solto.
Ficou por isso.
Minha irmãzinha está morando com eles ainda, e se ele tenta abusar dela?
Se ele tivesse sido punido eu não estaria tão preocupada.
Porque ando na rua, às vezes, e fico com medo: e se ele resolve vir para cá, me coloca dentro de um carro, para me matar?
E eu sei como ele é.
Grupo RBS – Você passou por tratamento?
Grupo RBS – Você passou por tratamento?
Vítima - Fui acompanhada pela psicóloga do Centro de Referência de Assistência Social (Creas) até o final do ano passado.
Me senti mais aliviada mas não esqueci, porque nunca se esquece aquilo.
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