21 de mai. de 2011

ASSISTI NA TV ...




“Assisti na TV e vi que era um crime”, 
diz menina abusada pelo pai

jovem de 16 anos, que sofreu abusos desde a infância, fugiu de casa

Na Semana de Combate a Pedofilia, em que o país inteiro está mobilizado contra o crime, o Jornal de Santa Catarina entrevista uma menina de 16 anos, abusada sexualmente pelo pai desde a infância.

As mãos trêmulas denunciam a dor que o olhar e a voz firme tentam esconder. 

Quase dois anos após ter fugido de casa para viver com uma tia, a adolescente conta como se deu conta do que estava acontecendo com ela e de como tenta construir um novo caminho. 

Mas a sensação de impunidade, por ver o pai livre, e a falta de apoio da mãe, ainda assombram os pensamentos dela. 

Grupo RBS – Que idade você tinha quando tudo aconteceu? 

VítimaQuando eu tinha cinco anos, ele (o pai) me molestou, vinha passando a mão. 
Foi quando eu tinha oitos anos que aconteceu (o abuso).
Depois continuou me molestando, queria me ver nua. 

Grupo RBS – Qual foi a sua reação? Você sabia o que estava acontecendo? 

VítimaNão. Ele me ameaçava muito, dizia que se eu falasse para alguém ele mataria a mim e a minha mãe. Não lembro com que idade, comecei a assistir na TV reportagens sobre abuso sexual e vi que era um crime. 
Eu já não gostava do que ele fazia, aí comecei a ficar com nojo. 
Mas tinha medo de contar e alguém ir tirar satisfação com ele. 

Grupo RBS – Sua mãe sabia? 

VítimaPara uma mãe, não ver o que está acontecendo é muito difícil. 
Desconfio que ela sabia e não queria contar para ninguém. 
Para mim, hoje, minha mãe é minha tia. 

Grupo RBS – Em que momento você resolveu trazer tudo isso à tona? 

VítimaMinha mãe descobriu que tinha sido traída pelo meu pai e falou que iria se separar dele. 
Pensei que se eu contasse, ela iria denunciá-lo. 
Quando contei, ela me disse que já imaginava. 
Depois, falou que não acreditava em mim. 

Grupo RBS – Quando você decidiu que iria sair de casa? 

VítimaMinha mãe falou que iríamos nos mudar para outra cidade, mas que ele (o pai) não iria junto, e que quando chegássemos lá ela iria denunciá-lo e ele seria preso. 
Quando chegamos, a ouvi falando no telefone com ele, dizendo que ele também iria para lá. 

Grupo RBS – Como aconteceu a fuga? 

VítimaEu liguei para a minha tia, pedindo ajuda. 
Aí fugi. 
Caminhei por duas horas até o terminal de ônibus, no Centro, e fiquei à espera da minha tia. 
Minha mãe estava me procurando, mas passou do meu lado e não me viu. 
Eu tinha o cabelo comprido, e escondi por dentro da blusa. 
Nunca me esqueço. 

Grupo RBS – E então você foi viver com a sua tia? 

VítimaSim, foi quando começou o meu processo. 
Fiz os exames, fui atrás de tudo. 

Grupo RBS – E o seu pai, está preso? 

VítimaNão, ele está solto. 
Ficou por isso. 
Minha irmãzinha está morando com eles ainda, e se ele tenta abusar dela? 
Se ele tivesse sido punido eu não estaria tão preocupada. 
Porque ando na rua, às vezes, e fico com medo: e se ele resolve vir para cá, me coloca dentro de um carro, para me matar? 
E eu sei como ele é. 

Grupo RBS – Você passou por tratamento? 

Vítima Fui acompanhada pela psicóloga do Centro de Referência de Assistência Social (Creas) até o final do ano passado. 
Me senti mais aliviada mas não esqueci, porque nunca se esquece aquilo.

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