26 de mai. de 2010

ESTUDO PSICODINÂMICO DE UM PEDÓFILO

O aumento e a extensão dos casos de agressão sexual em nossa sociedade tem elevado os esforços no sentido de compreender este tipo de violência .

A pedofilia é um desses casos de agressão sexual com o qual nós temos nos defrontado quase que diariamente, em noticias de jornais e revistas.

A internet, um mundo virtual que preserva a identidade de seus usuários e seus atos com a possibilidade da liberdade de expressão, tem propiciado e ocasionado vários fatos ligados à pedofilia.

Não é mais raro atualmente, encontrar nos meios de comunicação, noticias recentes sobre esse crime que, de forma devastadora, desrespeita todos os direitos, e moral de uma criança.

Pesquisas têm sido realizadas em varias áreas ( Psicologia, Psicanálise, Psiquiatria, Medicina, entre outras ) resultando em medidas de ordem preventiva e em intervenções propriamente dita.

A pedofilia é praticada por pessoas maiores de idade ( adultos ) que apresentam desejos sexuais por crianças e adolescentes dependentes e imaturos.

São atividades que violam o tabu sócio-cultural e que são contra a lei.

Em geral, tal desequilíbrio apresenta também exibicionismo, estupro, sadismo sexual, homossexualismo, voyerismo, entre outras perversões, podendo cometer numerosos atos sexuais com crianças de diversas maneiras.

Entre os fatores que a predispõe, prevalece a violência na família, carência afetiva, abuso de substancias tóxicas, deficiência na educação sexual, experiências sexuais precoces e ambiente familiar patológico.

A etiologia da agressão sexual ainda é alvo de controvérsias na medida que a identificação de características únicas e comuns não podem ser combinadas em uma equação de previsibilidade.

O ser humano é um ser complexo, assim tanto no equilíbrio quanto no desequilíbrio, é muito difícil prever ou predizer suas ações e motivos.


Literatura

Na literatura cientifica, temos vários teóricos que investigaram e tentaram explicar os possíveis motivos que podem estar ligados à esse desequilíbrio, entre eles temos:

FREUD (1908) considerou que nas perversões ocorre a regressão aos conflitos da fase edipiana, sendo que a sexualidade é substituída por componentes da sexualidade infantil.

Também FREUD (1927) , dividiu as perversões em dois grandes grupos:

a)desvios do objeto sexual , incluindo-se homossexualismo, fetichismo, pedofilia, zoofilia, etc

b)desvios da finalidade sexual , incluindo-se voyerismo, exibicionismo, sadismo, masoquismo, etc.

SOPOERRI (1972) ressaltou que os pedófilos apresentam sentimento de inferioridade e conflitos em relação a figura humana.

COLLEMAN (1973) distinguiu a personalidade dos pedófilos mais jovens e mais velhos.

Os primeiros apresentam sentimentos de inadequação frente o sexo oposto , medo de rejeição e humilhação, sendo que muitos eram esquizoides com tendências ao consumo de álcool.

Os pedófilos mais velhos , apresentam transtorno psicóticos , instabilidade emocional , imaturidade, controle interno precário e conflitos homossexuais .

CALLIERI (1998) apontou que os pedofílicos possuem pulsão destrutiva muito forte com defesas precárias , sendo dominado por qualidades narcisistas e de agressividade destrutiva que se transforma facilmente em sadismo .

O autor prefere utilizar o termo "agressor sexual" uma vez que o comportamento sexual é invasivo e não propriamente inocente.

Apontou ainda que na pratica sexual em geral as crianças silenciam , o que pode representar uma complexa relação entre os dois ou uma tendência da criança à vitimização..

Finalmente GLAZER (2000), especificou que a maioria dos pedófilos sofreram abusos sexuais na infância, e que começam a desenvolver o ato perverso logo cedo.

No entanto , o autor acentuou que a pedofilia dificilmente aparece de forma exclusiva, sendo acompanhada por outros tipos de violência sexual ( como sadismo, masoquismo, estupro, entre outros ).

Analisou ainda que no grupo familiar de tais pessoas prevalece a hostilidade e agressividade, sendo o incesto algo muitas vezes freqüente.

Temos, portanto, alguns teóricos que contribuíram, entre tantos, para o esclarecimento da pedofilia.

Porém, ainda assim, os recursos que possuímos são muito restritos.

Neste sentido, a pesquisa, aqui apresentada, faz parte de um trabalho que, visou levantar as características psicológicas de personalidade de um caso de pedofilia, através do uso de técnicas projetivas.

Os Métodos e técnicas projetivas utilizadas foram as seguintes :

o Método de Rorschach, segundo SILVEIRA ( 1985 ) e o teste projetivo H.T.P. ( House-Tree-People), segundo VAN KLOCK ( 1984).

O Método de Rorschach, é um instrumento psicológico que visa interpretar a estrutura de personalidade das pessoas submetidas ao mesmo, enquanto o teste projetivo H.T.P. é um instrumento psicológico que visa interpretar a sua dinâmica de personalidade.

De forma resumida, tais instrumentos, utilizados dentro do processo psicodiagnóstico, tem como objetivo descrever e analisar psicologicamente a pessoa examinada, para inferir um diagnostico, orientação e/ou encaminhamento.

Procedimento

O caso de pedofilia foi, selecionado e avaliado num Hospital Psiquiátrico de São Paulo.

No primeiro contato com o examinando, explicou-se o objetivo da aplicação dos testes, solicitando a colaboração e permissão para divulgação dos dados, assegurando que sua identidade seria preservada.

Optou-se iniciar o estudo pelo teste projetivo HTP, aplicando-se o Método de Rocharch na semana seguinte.

O teste e a entrevista ocorreram em uma sala bem iluminada e arejada, estando presentes o Examinador e o Examinado.


Histórico

Sexo masculino, divorciado, branco, 48 anos, brasileiro natural de Presidente Prudente, exercia a profissão de entalhador.

Acusado de cometer crime de estupro com traços sádicos e de cunho pedofílico.

Em 1989, atraiu uma menina de 3 anos de idade para um barracão, realizando ato de felação com tentativa de penetração anal e vaginal sem êxito.

Foi pego em flagrante por uma pessoa que acionou a policia local.Detido há 10 anos, encontrava-se em regime de reintegração social num Hospital de custodia e tratamento psiquiátrico de São Paulo.

Conclusão

A avaliação psicológica de um caso de pedofilia por meio do Método de Rorschach e do teste projetivo HTP, permitiu concluir que o examinando revela:

* controle interno extremamente precário, com reações explosivas, impulsivas e egocêntricas.

* conflitos nas relações interpessoais e fortes traços de insegurança.

* contato com o meio externo subjetivo com fuga para o devaneio e adaptaçãointelectual precária.

* Distúrbios no desenvolvimento psicossexual.

 
 
O método de Rorschach foi, desde sua criação, centro de importantes investigações em psicopatologia. Por tratar-se de um método de estudo da personalidade baseado na análise de respostas a estímulos não estruturados, serve de base para a observação dos fenômenos psíquicos complexos relacionados com os processos de percepção, associação, projeção, e também da comunicação e expressão verbal.
Daí provêm a riqueza das análises feitas sobre o material coletado, a profundidade e o alcance das observações e conclusões obtidas e a diversidade de metodologias empregadas para tal fim.
Dentre os diversos sistemas de análise e interpretação desenvolvidos e bastante em uso, embora menos conhecida em nosso país, encontra-se a metodologia fundamentada nos princípios da Psicopatologia Fenômeno-estrutural, baseada no estudo da linguagem e da visão em imagens.
Sua contribuição para a compreensão do funcionamento normal e patológico é bastante significativa e, sendo assim, o objetivo deste artigo é contribuir para a difusão dessa teoria e desse método de análise, demonstrando sua riqueza para a compreensão diagnóstica do indivíduo.
 
 
Teste H.T.P. é um tipo de teste pro­jetivo em que o sujeito é solicitado a desenhar uma casa (House), uma árvore (Tree) e uma pessoa (Person).


fonte
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http://www.redepsi.com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=1452