Leia alguns depoimentos verídicos de vitimas de abuso sexual infantil.
1)
" Eu fui uma de tantas crianças que foram abusadas sexualmente na infância por meu pai.
Não fui a primeira nem a última.
Antes de me abusar, ele já abusara de crianças e adolescentes, tanto na família de origem dele como na da minha mãe.
Minhas lembranças de ter sido abusada por ele, vêm desde a época que eu ainda ia ao jardim de infância. Meu pai me assediava diariamente e esta tortura durou por toda minha infância e também adolescência, quando comecei a tentar me esquivar dele e a protestar contra suas investidas.
Como é comum de abusadores deste tipo, desde pequenina meu pai fazia chantagens emocionais comigo, pedia que eu guardasse segredo, como prova de meu amor por ele, pois caso contrário ele afirmava que seria preso.
Ele dizia que as pessoas não entenderiam este amor dele por mim.
Segundo ele, este amor que ele dizia sentir por mim era o maior que ele já tivera.
Ele dizia não sentir amor por minha mãe e sim por mim.
Meus conceitos de certo ou errado, ficaram afetados por muitos anos, pois o conflito de querer acreditar que meu pai estava certo, como toda criança acredita e a sensação de que algo estava muito errado, por causa do segredo que ele me fazia guardar, fizeram com que eu tivesse uma percepção muito distorcida da realidade durante a minha infância.
Jamais consegui ter proximidade com minha mãe ou ser amiga dela, nem eu sentia que ela era minha amiga, pois meu pai dizia que se ela sentiria muitos ciúmes e raiva de mim se um dia soubesse que ele amava mais a mim do que a ela.
Assim, como defesa, eu passei a sentir raiva dela desde criança.
Anos mais tarde, quando eu já era adulta, fiquei sabendo que ela tinha conhecimento de que meu pai abusara de pessoas na família dela também, antes de eu nascer.
Sabendo disto não consegui mais ter respeito por ela depois de perceber que, apesar de ela saber que meu ai continuava a abusar sexualmente de crianças, ela ainda insistia tanto em querer ficar ao lado dele.
Acho importante transmitir às pessoas o quanto o abuso sexual se estende para muito além do próprio abuso sexual.
Isso afeta a vida das pessoas no sentido mais intenso e mais extenso que qualquer tipo de violência pode causar, ao mesmo tempo que deixa a pessoa viva para sofrer a dor do abandono, da traição e do desamor.
Minha baixa auto estima, meu sentimento derrotista e minhas dificuldades de relacionamentos culminaram em uma forte depressão aos meus 26 anos, quando fui abandonada por um namorado, que apesar de ser médico, dizia não conseguir conviver com meus estados depressivos.
Como muitas das vítimas de abuso sexual na infância, eu também não quis mais viver…
Após longo período de hospitalização, psicoterapia e antidepressivos, tive retomada a vontade de viver.
Mas o principal motivo, foi acreditar que eu era amada por aqueles que me socorreram: meus próprios pais.
Pedidos de desculpas, foram encarecidamente apresentados, assim como cumprimentos de novenas e promessas de que meu pai jamais abusaria sexualmente de qualquer pessoa novamente, em troca do meu perdão.
Ele se declarava "curado"!
Jurava que eu podia acreditar nele a partir de então.
Eu era a pessoa que mais queria acreditar nisso.
Eu acreditei que a iminência da minha própria morte o fizera perceber o quanto ele havia me machucado e o perdoei tentando recomeçar uma vida nova.
Eu não fazia idéia ainda, de que a história acontecida comigo voltaria a se repetir por muitos anos afora.
Mais tarde, depois de perceber toda a farsa, ao me dar conta de que ele voltara a abusar sexualmente de crianças, passei anos me debatendo em brigas com meu pai e ele tentando convencer as pessoas de que eu era louca.
Todas as tentativas de fazer com que as pessoas acreditassem em mim foram inúteis.
As pessoas da minha família achavam que eu tinha uma obsessão em suspeitar dele por causa do que eu havia vivido na infância.
Fiquei mais uma vez isolada, desta vez por trazer a verdade à tona e tentar proteger novas vítimas.
Sem as interferências negativas de minha família, consegui me fortalecer, apesar de ter carregado ainda por muitos anos o sentimento de culpa de que se um dia eu fosse tornar pública uma denúncia contra meu pai, eu iria destruir minha família.
Apesar disso, a idéia não me saia da cabeça, pois eu sabia que ele continuava a molestar crianças, mas eu me sentia ainda acuada e isolada para tomar uma atitude em relação a isso.
Tudo mudou, quando tomei conhecimento da ASCA, uma organização de sobreviventes de abuso sexual na infância aqui na Austrália.
o ouvir as histórias de outras sobreviventes, me dei conta de como minha história se repetia na vida de tantas outras pessoas que eu nem conhecia e também de como ficava mais claro olhar de fora a experiência destas pessoas e analisar meus próprios traumas.
Além dos encontros, outras formas de ensinamentos compartilhados foram a intensa leitura de obras literárias de outros sobreviventes, de terapeutas do ramo e de pesquisas.
Com tudo isso, passei a não me sentir mais isolada e sim fortalecida.
Eu me conscientizei, a partir de então, que era meu direito reclamar minha dignidade e também era meu dever alertar as pessoas para proteger novas vítimas de meu pai.
Denunciei meu pai por escrito às autoridades Brasileiras.
Decidi que ninguém mais me faria calar todas as angústias e repressões que eu tinha atravessadas na garganta por toda minha vida.
Foi a partir daí que a coisa começou a tomar jeito.
A promotoria apresentou a denúncia e com o tempo outras vítimas de meu pai começaram a confirmar os abusos.
Quando o abusador já estiver em idade avançada, como no caso de meu pai, as pessoas se deixam influenciar pela aparência do velho frágil e desprotegido, sem se dar conta de que por trás daquela imagem ilusória existe uma pessoa perigosa.
Outro problema que ainda existe é a crença de que crianças querem seduzir os adultos através do sexo.
Não existe como a vítima ver no terapeuta o seu aliado, se este não acredita na inocência, tanto do ato, como da intenção desta.
Quebrar o silêncio é o primeiro passo para isso.
Entretanto, também é necessário que esta possa se valer de direitos e de mecanismos legais de proteção e de reconhecimento e de respeito pelos danos sofridos.
A falta de legislação adequada que garanta a proteção das vítimas e testemunhas, bem como o afastamento definitivo do abusador de suas vidas, faz com que a grande maioria jamais reclame ou tome a iniciativa de denunciar os abusadores.
Depoimento de E. N.
Sobrevivente de abuso sexual na infância.
Carta endereçada ao Presidente Luís Inácio da Silva pela vítima.
Gold Coast, 13 de Março de 2006
Ao Senhor
Luis Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
Praça dos Três Poderes
Palácio do Planalto, 4º andar
CEP 70.150.900
Brasília - DF - BRASIL
Lula.PT@uol.com.br; Press@Lula13.org.br;
Copia para: presidencia@stf.gov.br
Assunto:CRIMES HEDIONDOS
Prezado Presidente Lula
Como brasileira, mulher e vítima de crime hediondo, venho através desta fazer o meu apelo para que o senhor interceda em favor do clamor de justiça do povo brasileiro.
São muitos os brasileiros, que assim como eu, deixaram o Brasil justamente por causa do sentimento de injustiça e revolta causados pelo descaso com que as autoridades tratam de algo tão importante para o bem estar e o sentido da existência humana: a esperança, o respeito e o compromisso com aqueles que formam uma nação.
A recente decisão do STF em relação ao abrandamento de penas a crimes hediondos, tem sido a gota d’água para todos nós.
A forma com que a justiça é conduzida no Brasil, faz com que muitos brasileiros como eu, se vejam abandonados, cansados de tanto lutar e nos restando como última alternativa, termos que deixar nosso próprio país como forma de tentarmos recuperar nossas dignidades.
A perda maior entretanto, não é somente nossa, Presidente Lula e sim do Brasil, pois assim como estaremos ausentes de corpo, estarão ausentes a nossa participação na comunidade da qual viemos, as relações afetivas que deixamos para trás; nossas idéias, talentos e contribuições, sem os quais o Brasil empobrece cada vez mais.
Eu sinto muita saudade do Brasil, Presidente Lula. Sinto saudades da minha gente, dos meus amigos, daqueles que me são queridos e preciosos, mas sinto um grande desespero toda vez que penso em voltar ao Brasil.
Eu sinto este enorme desespero todas as vezes que fico sabendo de notícias envolvendo corrupção, injustiça e abusos que me fazem sentir um misto de tristeza e vergonha de ser brasileira.
Eu queria tanto poder me orgulhar do Brasil, e eu tenho tanto para oferecer ao meu país, mas não me sinto segura e nem motivada a voltar enquanto perdurar tamanho caos no meu país.
Por isso, Presidente Lula, eu lhe peço encarecidamente, que cumpra o seu papel de representante dos interesses do povo brasileiro, que lhe foi concedido, exercendo democracia e permitindo que o próprio povo escolha se deseja que autores de crimes hediondos sejam liberados as custas da segurança e bem estar das pessoas, através de um plebiscito.
Certamente, isso resgataria não somente os direitos e dignidade dos brasileiros mas a confiança que esse povo perdeu no senhor.
Envio em anexo, texto endereçado a imprensa e entidades brasileiras, bem como cópia de mensagem na língua inglesa, a qual enviei a imprensa e organizações internacionais, para sua referência e conhecimento.
Cordiais saudações
E. N.
2)
M., 35 anos, empresária – Recife-P
...Não sei ao certo quando começou, aliais fiz questão de esquecer.
Tinha mais ou menos 10 anos de idade.
Era de manhã quando brincava pela casa, subi no 1º andar, meu irmão (nove anos mais velho estava deitado em uma cama de campanha, me chamou e pediu para que eu tirar (espremer) espinhas que ele tinha nas costas.
Ele estava de, short, sem camisa, espremi 02 ou 03 espinhas meio sem jeito e ele me pediu para fazer o mesmo em mim.
Disse-lhe que não tinha e ele me pediu para ver, insistindo.
Eu permiti.
Percebi que ele desceu a mão e alisou por entre as minhas pernas de maneira rápida.
Eu me assustei e aproveitei algumas pessoas falando e corri enquanto ele dizia:
“Peraí, peraí, vem cá!”.
Desci os degraus mais que depressa quando cheguei em baixo, minha irmã (seis anos mais velha) foi entrando em casa e eu resolvi que ia contar tudo a Ela.
Não consegui, as pernas tremeram, esbarrei em minha timidez, fiquei com medo de que achasse que eu o tinha provocado.
TIVE MEDO!
Ai começou meu inferno que dura até hoje.
Em 1972, após 21 anos de casamento e 9 filhos meus pais se separaram, sou a oitava.
Três (03) ou quatro (04) anos depois passei a trabalhar para ajudar minha mãe.
Ela dizia que os filhos eram o maior transtorno da vida dela.
Tenho certeza até hoje de carregar um complexo de culpa muito grande, junto com o de rejeição.
Naquela época eu muitas vezes trabalhava sozinha em cima de um banco para poder ficar maior e atender melhor os clientes.
Minha vida era da escola para loja e da loja para casa almoçava muitas vezes dentro da loja como lá também fazia os meus deveres, de casa.
Não tinha brinquedos, não me permitiam ter amigos ou colegas, pois poderiam me colocar contra minha mãe, senhora absoluta e ditadora de normas e regras.
Meu único divertimento quando ela me deixava era assistir TV.
Minha mãe inventou de estudar à noite para encobrir seu comportamento pornográfico para uma
Empresária, mãe de 09 filhos que muitas vezes varava a noite em boates de quinta categoria - e eu a via chegando as 5:30hs. da manhã, na hora que eu estava indo para missa levar minha tia que morava conosco.
Minha vida tornou-se um inferno quando meu irmão então envolveu-se com roubo de toca-fitas e arruaças em um Estado vizinho, ele foi preso, não sei quanto tempo ele passou.
Acho que não chegou há 01 mês, ele voltou e começou a me perseguir à noite, quando as pessoas dormiam.
Ele vinha se chegando, começava a pegar nos meus peitos, passava a mão em minha bunda, introduzindo o dedo em meu ânus fazendo eu masturba-lo.
Em seguida ele se trancava no banheiro e lá passava horas, com umas revistas de sacanagens.
0 meu relacionamento com minha mãe era um abismo. Ela queria a liberdade e os filhos eram naturalmente um empecilho ao processo que ela queria vivenciar.
Nunca recebi nem uma forma de carinho dela, e não a perdôo pelo "presente de grego" que ela me proporcionou, para que sobrasse dinheiro para suas “putarias", farras e para gastar "com bebidas e homens.
Ela permitiu que o verme do meu irmão dormisse em minha cama.
Desejei tantas vezes morrer.
Não sabia como se engravidava, as vezes achava que estava grávida só por ele colocar o dedo em meu ânus.
Bloqueei todos os tipos de reação ou sensação que isso pudesse causar.
Me sentia suja, imunda, nojenta, achava que só ao olhar para mim as pessoas iriam descobrir.
Entristeci-me para vida, para o mundo.
Minha Mãe ocupada demais para qualquer coisa inclusive para se dar conta que meu irmão era um pervertido e na calada da noite até mesmo com ela dormindo na cama ao lado ele me molestava.
Em uma das noites malditas, esse pervertido foi mais além: introduziu seu pênis em meu ânus, aumentando mais ainda minha repulsa, minha revolta e o nojo que sentia de mim mesma.
Durante todo o tempo que isso aconteceu não existia diálogo, ele simplesmente atacava-me nas portas da geladeira, do banheiro ou vendo TV e o mais cruel era saber que na cama ao lado dormia minha mãe, que ela consentia ele dormir comigo em uma cama de solteiro.
Tentei inúmeras vezes criar coragem para falar pois sempre tive a certeza que minha mãe não iria acreditar.
Estava certa.
Quando eu tinha 19 anos ela soube e disse:
“Não acredito que houve isso e se houve foi culpa sua”.
Um certo dia houve um surto de doença venérea entre meus irmãos e foi assim que eu mesma passei toda vez que ele chegava eu repetia continuadamente: doença venérea, doença venérea, doença venérea... até ele sair de junto de mim.
Parece que isso lhe dava medo e ele só respondia:
“Cala boca, não fale isso, eles vão descobrir. "
Sinto-me hoje melhor de poder dividir em palavras escritas, como foi que tudo aconteceu, sabendo que este fato pode ajudar outras pessoas a se livrarem, se libertarem do abuso sexual.
Eu queria ter sido uma criança, uma adolescente e uma adulta normal, sem precisar ter passado por isso.
Estou recomeçando a minha terapia, pois tornei-me uma pessoa agressiva e incrivelmente defensiva ao- ponto de dificultar minhas relações sociais e amo- rosas.
Minha maior revolta e ver que até hoje passados 25 anos minha mãe continua acolhendo-o e ele continua aliciando menores, meninos e meninas com menos de 10 anos de idade, que como eu cedem por medo ou sei lá o que, e satisfazem os prazeres sórdidos de um aliciador profissional.
3)
'Até hoje me pergunto por que ninguém me defendia dos ataques do meu pai. Hoje, trabalho para proteger crianças e jovens'
M.M., 40 anos, pedagoga
Meu pai era contador e minha mãe, costureira. Morávamos na casa da minha avó paterna, num bairro de classe média de São Paulo.
Ela era a única que me defendia das investidas do meu pai.
Um dia minha avó saiu e ele, bêbado e drogado, me violentou.
Eu fiquei muito machucada, mas a única reação da minha mãe foi colocar o marido para dormir na sala.
Depois disso, meu pai não me molestou mais sexualmente, mas batia freqüentemente em mim e no meu irmão, seis anos mais novo.
Até hoje me pergunto por que ninguém nos defendia.
Aos 14 anos, me casei com um militar, cinco anos mais velho, moço de boa família e sem vícios.
Mas logo ele se transformou num marido violento e, repetindo o comportamento do meu pai, me batia muito.
Mesmo tendo dois filhos pequenos, eu me sentia tão infeliz que tentei suicídio aos 17 anos.
Mas uma vizinha me salvou e, a partir daquele dia, nasceu uma nova M.
Criei coragem e denunciei meus pais para o juizado de menores.
Aos 18 anos, consegui a guarda do meu irmão caçula e me separei.
Comecei uma vida nova e um trabalho social.
Montei um grupo de teatro, chamado P., para levar minha mensagem contra a violência doméstica e o abuso infantil a um número maior de pessoas.
Depois, me formei em pedagogia com especialização em psicologia.
Passei a receber denúncias e encaminhá-las à Justiça, com o objetivo de proteger as crianças.
Logo no início desse trabalho, encontrei quatro meninos em situação de risco. Dois voltaram a viver com os parentes, um morreu e eu fiquei com o T., a primeira das 27 crianças que adotei.
Me casei de novo, com E., com quem descobri uma nova forma de amar, baseada no carinho e no respeito.
Ele me fez sonhar de novo e da nossa união nasceu a P., que tem 15 anos.
Do primeiro casamento, tenho a M., de 20 anos, e o M., de 19.
Ao todo temos 30 filhos.
Em 1994, a Parábola foi registrada como organização não-governamental e tornou-se referência mundial na área de violência doméstica.
Já recebemos e investigamos cerca de 6 mil denúncias de abuso.
Oitocentas crianças e jovens receberam tratamento integral ou parcial.
Esse trabalho foi a melhor forma de transformar a minha dor.'
4) outros
"O que aconteceu comigo foi muito doloroso... Meu avô era alcoólatra... Minha avó, submissa a seus caprichos... Nós três sabíamos de tudo... Eu era uma criança... acho que tinha uns quatro anos... talvez... quando o meu avô me mandava pegar, brincar, chupar, eu fazia tudo com a maior naturalidade, porque muitas vezes minha avó fingia que não via... "
garota, 11 anos, vítima d abusos
"Tenho nojo do meu corpo, medo de sair na rua e de ficar em casa. Não estou bem em lugar nenhum, acho que a qualquer momento vai acontecer de novo"
garota, 13, vítima de estupro
"Ele [o abusador] me chamava e deixava eu jogar videogame... Depois mandava eu abaixar as calças. Aconteceu muitas vezes, não sei quantas... Eu peguei meu irmão porque, às vezes, sinto uma vontade... De mulher, não sei... Não consigo me controlar, aí peguei ele [o irmão]... Eu sei que estou errado"
Menino, 12, vítima de abuso sexual que começou a reproduzir a situação com o irmão de três anos
"Eu estava muito ruim, lembrava o tempo todo, tinha medo de sair de casa, ficava achando que todo homem que sentava ao meu lado no ônibus era ele. Mas já melhorei, domingo fui ao shopping com minhas amigas. Acho que não é porque isso aconteceu que nenhum homem vai me aceitar... Quero encontrar um namorado, quero me casar e ter filhos"
Garota, 13, violentada
5)
Escritor americano fala de passado de abusos e exploração sexual
O escritor norte-americano JT Leroy, então c/22, é um exemplo de quem deu a volta por cima após um histórico de exploração sexual.
Leroy já publicou dois livros nos dois últimos anos, "Sarah" e "The Heart is the Most Deceitful Thing" (O Coração É a Coisa Mais Enganosa), traduzidos em 13 línguas, mas ainda sem editor no Brasil.
Tanto no romance "Sarah" quanto nos contos de "The Heart...", Leroy explora o relacionamento conflituoso com sua mãe, que o teve quando era adolescente e o entregou para a adoção.
Quando fez 18 anos (e ele tinha quatro), ela conseguiu recuperar a guarda do filho e começou a rodar os EUA se prostituindo.
Leroy apanhava sistematicamente dos companheiros dela e foi abusado sexualmente.
N começo da adolescência, ele passou a se prostituir.
Aos 14 anos, depois de viajar pelos EUA, ele parou em San Francisco e começou a fazer terapia.
A partir de uma sugestão do médico, passou a escrever e não parou mais.
Hoje é uma das vozes mais vivas da nova literatura do país.
Leia a seguir trechos da entrevista que concedeu por telefone de sua casa em San Francisco. (GUILHERME WERNECK)
Quanto de você está em Cherry Vanilla, personagem central de "Sarah"?
JT Leroy - Muito. Quer dizer, acho que tem muito da minha adolescência. É claro que eu nunca andei sobre as águas nem fui confundido com um santo como no livro, mas a essência do que eu sou e o jeito como eu me sentia na adolescência estão realmente lá.
Você conheceu muitas crianças que sofreram abusos sexual e psicológico. Existe algo em comum entre elas?
Leroy - Terem sido ferradas? [risos] Quer dizer, isso tudo deixa você confuso, mas também o ajuda a sobreviver. Acho que é mais perigoso quando você nunca teve um lugar seguro durante a infância, nunca teve um laço afetivo com os seus pais. Eu tive pais adotivos até os quatro anos. E, na realidade, experimentei a segurança e o amor até eu ter quase cinco anos. Acho que, se você não tem isso, está perdido. Você vira um animal selvagem e não consegue se recuperar, independentemente de quanta terapia faça.
Como você se sentiu quando sua mãe lhe tirou de seu lar adotivo?
Leroy - Foi terrível, bastante traumático, eu não sabia o que aconteceria. Ela não era a minha mãe para mim. Por isso ela teve de usar de controle e de manipulação para fazer a nossa relação funcionar.
Depois de ter sofrido abusos, você passou por uma fase de autodestruição?
Leroy - Sim, com certeza. Eu passei por uma fase em que estava muito autodestrutivo. Quando você entra num mundo em que não lhe dão valor, não cresce pensando na sua sexualidade nem em ser uma pessoa de valor. Não é algo sobre o qual você consegue ter controle. Você fica louco, autodestrutivo.
A história de um garoto cuja mãe teve uma série de namorados que abusaram dele e acabou na prostituição é a sua?
Leroy - Não, a minha história tem mais nuanças. Eu não fiz tudo o que conto no livro nas paradas de caminhão. Como a minha mãe se prostituía, então eu me prostituí, mas não era uma relação tão formal como escrevi em "Sarah". É mais como se você fizesse aquilo que seus pais fazem. Se seus pais são tecelões, você vira um tecelão. Minha mãe era uma prostituta, parecia a coisa mais natural a fazer."
Você se travestiu quando criança?
Leroy - Sim, com certeza.
Para copiar a sua mãe?
Leroy - Não, ela preferia que eu parecesse ser sua irmã em vez de seu filho.
Quão disseminada é a prostituição infantil nos Estados Unidos?
Leroy - Acho que as pessoas querem negar a sua existência, sabe? Mas a prostituição infantil é uma grande questão em todo o país. Acho que as pessoas gostam de pensar que, como os Estados Unidos são uma nação desenvolvida, isso não acontece aqui, mas acontece.
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"A cada ano, mais de 100.000 crianças sofrem alguma forma de abuso sexual.
Estima-se que uma em cada 4 meninas e um em cada 6 meninos sofram alguma forma de abuso sexual antes dos 18 anos de idade.
Muitos casos dão entrada em serviços de Pronto-Socorro e Pronto-Atendimento, e é preciso que o profissional atendente esteja capacitado dentro das técnicas de exame e na interpretação dos achados genitais dessas vítimas".
Introdução
O abuso sexual infantil pode ser definido como o envolvimento de uma criança em atividades de cunho sexual que ela não pode compreender, para a qual a criança ainda não se encontra desenvolvida ou capaz de consentir e que violem parâmetros de comportamento ético da sociedade.
Estas atividades podem incluir estimulação sexual (a criança tem a genitália tocada ou toca a genitália de um adulto), lesões penetrantes (penetração peniana ou digital na vagina, boca ou ânus) e lesões não-penetrantes (p.ex: beijos de natureza sexual).
A maior parte dos atos sexuais não consentidos ocorre entre pessoas que se conhecem, ou seja, entre cônjuges, familiares, namorados ou conhecidos.
A coerção sexual pode ocorrer a qualquer momento da vida de uma mulher.
Crianças, com poucos meses de idade, já foram estupradas ou molestadas sexualmente, de outras formas.
O abuso sexual de crianças existe em praticamente todas as sociedades.
Ele inclui qualquer ato sexual entre um adulto (ou familiar imediato) e uma criança, além de qualquer contato sexual não consensual entre duas crianças.
Como se trata de um tema cercado pelo tabu, é difícil reunir estatísticas confiáveis sobre a prevalência do abuso sexual durante a infância.
Os poucos estudos existentes com amostragens representativas informam que este tipo de abuso é bastante difundido.
Apesar de tanto meninas como meninos poderem ser vítimas do abuso sexual, a maioria dos estudos relata que a prevalência de abuso entre meninas é de pelo menos 1,5 a 3 vezes a dos meninos e, às vezes, muito maior.
30% das mulheres e 2% dos homens declararam ter sofrido abuso (que pudesse ser considerado como sexual) durante a infância ou adolescência.
Mas é possível que o abuso sexual de meninos não seja tão freqüentemente informado como o de meninas.
As mulheres tendem a relatar que são mais profundamente afetadas pelo abuso sexual do que os homens, embora, sem nenhuma dúvida, alguns homens e meninos também sofram enormemente.
Os estudos mostram consistentemente que, seja qual for o sexo da vítima, a grande maioria dos agressores é do sexo masculino e eles são conhecidos da vítima.
Muitos agressores foram eles mesmos agredidos sexualmente na infância, embora a maioria dos meninos que sofrem abuso sexual não agridam sexualmente a outros, quando se tornam adultos.
O abuso sexual pode gerar muitas conseqüências nocivas, inclusive problemas psicológicos e de comportamento, distúrbios sexuais, problemas de relacionamento, baixa auto-estima, depressão, tendência ao suicídio, alcoolismo e dependência química, além de comportamento sexual mais arriscado.
As mulheres que sofrem abuso sexual durante a infância correm também um risco elevado de sofrerem abuso físico ou sexual quando adultas.
O abuso sexual tem maior probabilidade de causar danos a longo prazo se for perpetrado durante um período mais longo, se o responsável for o pai ou uma figura paterna, se houver penetração ou se for utilizada força ou violência.
A resistência de uma criança e o tipo de acolhida que recebe quando relata o abuso também afetam as conseqüências a longo prazo.
Quando as pessoas acreditam na criança que relata um abuso e oferecem-lhe seu apoio, as conseqüências são freqüentemente menos graves do que quando a revelação da criança gera descrédito, acusação ou rejeição.
Grande parte da coerção sexual é feita com crianças ou adolescentes, tanto em países industrializados como em desenvolvimento.
De um terço a dois terços das vítimas conhecidas de agressões sexuais têm no máximo 15 anos, de acordo com informações dos órgãos de justiça e centros de atendimento em caso de estupro localizados no Chile, Peru, Malásia, México, Panamá, Papua-Nova Guiné e EUA.
Na infância, as meninas tornam-se alvos fáceis de familiares e amigos mais velhos, que as forçam ou iludem para conseguir seus objetivos sexuais.
Já moças, elas poderão ser forçadas novamente a manter relações sexuais com seus namorados, professores, familiares ou outros homens de autoridade.
O abuso sexual pode ocorrer sem contato direto, na forma de exibicionismo, voyeurismo e fazendo-se com que a criança se comporte de modo pornográfico ou sexual.
Esta informação é importante, pois deve-se ter em mente, que o abuso sexual, nem sempre produz alterações detectáveis ao exame físico.
O determinante mais valioso do abuso é o relato da própria criança (ou de uma testemunha do ocorrido).
Dados obtidos de questionários realizados com adolescentes, em uma clínica de pré-natal dos arredores de Cidade do Cabo, na África do Sul, mostraram que 32% de 191 mães adolescentes, cuja idade média era de 16 anos, relataram que sua primeira relação sexual tinha sido forçada.
Cerca de 72% informaram terem tido relações sexuais contra sua vontade em algum momento e 11% disseram ter sido estupradas.
História Clínica
A avaliação da criança com suspeita de abuso sexual deve ser ampla, incluindo-se na história dados comportamentais, sociais e exames ginecológicos e urológicos.
Se possível, os detalhes sobre o abuso devem ser obtidos de outras fontes confiáveis, além da criança.
Os responsáveis pela criança devem ser entrevistados isoladamente.
Familiares que não sabem muito sobre os antecedentes médicos da criança, ou que se mostram mais preocupados com questões de custódia que com o estado geral do infante, podem indicar a presença de um ambiente de convívio social pernicioso.
Durante a obtenção da historia, deve-se pesquisar a presença de indicadores comportamentais de abuso, tais como: alterações abruptas de comportamento (agressão, depressão, comportamentos suicidas, baixa auto-estima, pesadelos, fobias, problemas escolares), comportamentos autodestrutivos (abuso de álcool e outras drogas, prostituição) e comportamento sexual inapropriado para a faixa etária (masturbação excessiva, interação de cunho sexual com outras crianças).
A criança pode relatar sintomas relacionados à presença de corpos estranhos na vagina ou no reto, dor para evacuar, corrimento ou sangramento anal ou vaginal e coceira na vagina, doenças sexualmente transmissíveis ou até mesmo gravidez, entre outros.
Queixas somáticas são comuns e podem incluir dor de cabeça, dores abdominais, prisão de ventre, diarréia, desanimo.
Apesar da perfuração da vagina ou do reto poder resultar em lesões graves, a morte é um evento raro no abuso sexual.
A prevalência de doenças sexualmente transmissíveis (DST) varia de acordo com a localização geográfica e a idade da criança: na pré-adolescência, a incidência tende a ser inferior a 4%, ao passo que entre os adolescentes, a prevalência é de aproximadamente 14%.
Nos adolescentes, a historia deve incluir a data da última menstruação, número de gestações, possíveis cirurgias ginecológicas ou lesões traumáticas na área genital, a data da última relação sexual, uso ou não de contraceptivos, e antecedentes de DST.
Exame Físico
O exame físico geral deve incluir avaliação da genitália externa, mesmo em crianças na pré-adolescência. Lesões associadas a sangramento, corrimento vaginal, possível DST ou gravidez devem ser diagnosticadas imediatamente - o ideal é que o exame seja realizado no máximo 2 a 3 dias após o evento.
Alterações genitais sugestivas de abuso sexual são raras.
Em meninos, o exame pode revelar lesões na glande, no pênis ou no escroto.
Alterações anais (p.ex: machucados e flacidez do anus) são pouco comuns.
O mesmo ocorre entre as meninas: na maioria dos casos, o exame físico é normal. Isto pode decorrer da elasticidade do hímen e da genitália, bem como da própria cicatrização das lesões.
É preciso lembrar sempre que o abuso pode ter ocorrido há várias semanas ou mesmo meses.
Ainda assim, em alguns casos, pode-se encontrar ferimentos nos genitais ou lacerações himenais.
Abordagem Terapêutica
A medida terapêutica inicial mais importante é providenciar um ambiente seguro para a criança e garanti-la de que tudo será feito para mantê-la assim daí em diante.
A criança e seus responsáveis devem ser tranqüilizados quanto à natureza das lesões - que, de um modo geral, não produzem danos permanentes, porém não se deve fazer promessas que não possam ser cumpridas.
Caso sejam identificadas DST, o tratamento apropriado deve ser iniciado imediatamente.
Praticamente todas as crianças devem ser avaliadas por um psicólogo capacitado.
Conclusão
Estima-se que uma em cada 4 meninas e um em cada 6 meninos sofram alguma forma de abuso sexual antes dos 18 anos de idade.
A avaliação de crianças com suspeita de abuso sexual deve ser ampla e o exame físico deve incluir avaliação dos órgãos sexuais, ainda que alterações sugestivas de abuso sexual sejam raras.
A medida terapêutica inicial mais importante é providenciar um ambiente seguro para a criança e garanti-la de que tudo será feito para mantê-la em segurança.
Raramente as lesões decorrentes do abuso produzem algum dano anatômico permanente ou representam ameaça imediata à vida da criança.
A principal conseqüência associada ao abuso resulta do trauma emocional e psicológico.
....
O TRATAMENTO PSICOLÓGIO AMENIZA, MAS Ñ FAZ ESQUERCER!
O PEDÓFILO É PRESO POR ALGUNS ANOS E A VÍTIMA RECEBE PRISÃO PERPÉTUA!