4 de jun. de 2009

Seus pais podem pagar pelo que você faz na rede

Mala, chato, sacana, picareta. No território livre da internet, não faltam apelidos nada carinhosos para os professores de ensino fundamental e médio. Com as novas ferramentas, as opiniões e maledicências, que antes ficavam restritas às conversas do grupo, na hora do recreio, hoje ultrapassam os muros das escolas e podem render problemas - e prejuízo - para pais e alunos. Recentemente, a Justiça de Rondônia condenou 19 pais de estudantes a pagar indenizações a um professor de Matemática de Cacoal (500 km de Porto Velho) que, somadas, resultam em R$ 15 mil. O professor foi alvo de ofensas dos alunos no Orkut. Eles criaram, em 2006, a comunidade virtual “Vamos Comprar uma Calça para o Leitão”, ilustrada com a foto e o nome do professor Juliomar Reis Penna, 33. Na comunidade, dez alunos da oitava série, com idades de 12 a 13 anos, escreveram ofensas, piadas, questionaram notas e ameaçaram o professor. “Eu ajudo a furar os pneus do Vectra dele [...] Vamos quebrar os vidros, jogar açúcar dentro do tanque de gasolina”, foram alguns dos recados deixados pelos alunos. O argumento de uma simples “brincadeira infantil” não convenceu os juízes, que consideraram graves os comentários publicados. Além da indenização, paga pelos pais, oito dos estudantes envolvidos vão ter que passar por uma medida socioeducativa, e apresentar palestras para adolescentes sobre o uso responsável da internet. A punição ? que pode ser vista como um exagero por muitos ? é defendida por professores e por especialistas em Direito. “Recorrer à Justiça é uma das únicas armas dos educadores, já que muitas escolas não dão suporte aos profissionais, em caso de ameaças. Sempre que recebemos uma reclamação, orientamos o professor a procurar a delegacia especializada em crimes eletrônicos”, aponta o professor de História e diretor de Assuntos Jurídicos do Sindicato dos Professores das Escolas Particulares, (Sinpro), Marcos Dantas. Se os alunos responsáveis pelas ofensas ou ameaças forem menores de idade, caberá aos pais responder ao processo e pagar eventuais indenizações, destaca a advogada Bruna Lyra Duque. “É bom destacar que os pais têm que ter mais cuidado. Eles precisam avaliar a conduta de seus filhos, independente do reflexo no bolso”, destaca o juiz Américo Bedê Freire Júnior. Adolescentes e crianças: vítimas e criminosos Crianças e adolescentes são os mais propensos a sofrer com os crimes virtuais, seja como vítimas ou como algozes. “Isso acontece porque eles são os maiores utilizadores dessas ferramentas, ao mesmo tempo em que têm pouca ou nenhuma autorização”, explica o delegado responsável pelo Núcleo de Repressão Contra Crimes Eletrônicos (Nureccel), Júlio César de Souza Moreira. Os pais devem mesmo ficar atentos ao que os filhos andam fazendo no computador. Um levantamento feito pelo Nureccel, em 2007, mostrou que a maioria dos autores de crimes cometidos por meio da internet são adolescentes e jovens, com idades entre 12 e 25 anos. Os tipos mais comuns são de crimes contra a honra e a maioria ? 62%? é cometida dentro de casa. Na prática, quem espalhar mentiras ou ofensas pela internet pode se punido com detenção de um mês a dois anos e multa. Punição chega a dois anos de prisão Pagar indenização não livra ninguém da possibilidade de passar até dois anos na cadeia. Mesmo se os infratores forem menores de idade - caso em que os pais ficam responsáveis por pagar a quantia -, eles ainda podem responder criminalmente pelo ato. “A responsabilidade civil é dos pais, para pagar prejuízos materiais, mas a questão criminal não passa de uma pessoa para outra. No caso de menores de idade, eles podem responder como infratores pelo Estatuto da Crianças e do Adolescente e até serem condenados à internação”, detalha o juiz federal Américo Bedê Freire Júnior. Para ele, é preciso ter cuidado ao publicar conteúdo contra uma pessoa, pois o fato de tornar a ofensa pública abala ainda mais a imagem da vítima. “A internet potencializa a exposição da vítima e ainda facilita a produção de provas e até a análise do valor de uma possível indenização. Mas é bom lembrar que o conteúdo em si é o crime, independente de onde esteja”, destaca. O cuidado e o respeito devem ser redobrados, se levarmos em conta que a definição do que é ofensa e do que é simples brincadeira depende muito do caso, da vítima e do entendimento da Justiça. “O fato de afirmar que é uma brincadeira não retira a culpa de ninguém. Isso vai depender de cada caso concreto”, pondera o juiz. Escola aposta em diálogo e avaliação Conscientização e diálogo são as estratégias da Escola Crescer para resolver conflitos entre alunos e professores. “A abordagem da questão dos crimes virtuais começa já na aula de Informática básica, em que aproveitamos para estabelecer regras de como e quando cada ferramenta deve ser utilizada”, destaca a supervisora pedagógica da escola, Regina Malta. Outro fator que evita problemas na comunidade escolar é a abertura para que os alunos apontem defeitos e reclamações. “Incentivamos cada estudante a escolher um funcionário de sua confiança para conversar. Também fazemos avaliações periódicas dos professores e das turmas que ajudam a identificar se há algum problema”, ensina Regina. Por ser uma escola relativamente pequena, a Crescer se orgulha de não ter problemas mais sérios de relacionamento. “Em colégios maiores, com grande rotatividade de alunos e professores, essas questões são mais freqüentes, pois fica mais difícil acompanhar de perto cada aluno”, pondera a supervisora. A liberdade de expressão nunca foi problema na instituição, que mantém até um fórum para alunos em seu site institucional. “Incentivamos o aluno com problemas com o professor a buscar resolver a questão pessoalmente, sem expor a outra pessoa. Dá para ser autêntico, sem faltar com o respeito”, destaca.“Professor é gente, dentro e fora de sala” Mais de 400 alunos da escola São Domingos participam da comunidade “Sou ogro, mas sou feliz”, feita para o professor de Geografia M M S, 34 anos, há 14 na profissão. O apelido de Shrek surgiu de uma camisa verde, usada durante uma aula. “Não me incomodo. Mas isso vai depender muito da intimidade que você tem com a turma. Testar os limites das pessoas faz parte do cotidiano de adolescentes. Se o professor não entender isso, com certeza, vai gerar conflitos”, ensina. O respeito e a naturalidade no trato com os alunos - isso sem contar umas bagunças para não deixar ninguém dormir - são alguns dos segredos de Marcelo. Para os alunos, esse também é o ponto. “Professor também é gente, dentro e fora de sala. É mais difícil prestar atenção, quando você não gosta dele, mas é preciso relevar um monte de coisa”, ensinam os alunos Henrique, Artur, Nicole, Matheus e Júlia, do 9º ano. \/ FONTE http://www.aquidauananews.com/index.php?action=news_view&news_id=134309

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